3 de novembro de 2010

Sobre o pensamento de alguns eleitores de Serra

Uma verdadeira enxurrada de comentários no mínimo preconceituosos tiveram ampla repercussão nos últimos dias, principalmente na internet. Trata-se da opinião de moças e rapazes, com perfis de classe média, de cor branca, todos defensores da “suprema verdade” em taxar a candidatura de José Serra como a melhor.

Os comentários, que deveriam ter certa importância para avaliações de sociólogos, antropólogo e principalmente da OAB e o Ministério Público, culpam os eleitores do Norte/Nordeste pela vitória da candidata Dilma Rousself (PT). Carregados sempre de certo tom pejorativo, por vezes xingando e incitando atos de violência, como por exemplo, “Faça algo de útil e afogue um nordestino em SP”, os comentários estão sendo neste momento investigados pela Polícia Federal. Clike aqui e veja o vídeo.

Mal sabem esses filhinhos de mamãe bem nascidos, que mesmo sem os votos nordestinos, a candidata do PT estaria eleita mas o que torna o cerne deste texto impreterivelmente urgente é sua análise acerca destes comentários escabrosos e seus desdobramentos para o estudo da cultura brasileira.

O nível de irracionalidade destas e de tantas outras aberrações ditas pelos eleitores de Serra, teve inicio em sua mal lograda campanha que primou por um víeis de certa forma alinhada com setores “obscurantistas” da sociedade e em sua insistência ao abordar temas morais e religiosos. Como exemplo prático do que digo, aqui mesmo em Imperatriz, um pastor de uma Igreja Evangélica (prefiro não dizer o nome) afirmava em alto e bom som em seus cultos que Dilma era a “candidata do demônio”.

A tese de quê a parte fundamentalista da igreja militando na campanha de Serra estaria correlacionada a campanha racista por parte do conservadorismo brasileiro, no entanto não deve ser tomado como um absoluto somente. O que reúne tantas opiniões preconceituosas juntas numa mesma simbologia pode ser avaliado pelo caráter sociológico com que a articulação PSDB/DEM sempre teve em perspectiva. Há que se trazer estes elementos para o debate político.

Serra sempre utilizou-se do detestável recurso do medo como técnica de manipulação. Quem não se lembra da atriz Regina Duarte na televisão, no horário eleitoral de Serra em 2002, dizendo que tinha “medo”, “muito medo”. Ora, não havia bicho-papão nenhum. Era tudo marketing grosseiro, uma mentira acerca dos fatos como arma técnica de manipulação.

Outra: o projeto político de José Serra sempre esteve alinhado claramente com os interesses norte-americanos e suas doutrinas. O modo de vida que tem no personagem Homer Simpson sua principal caricatura esteve nos comícios e nas questões programáticas da dobradinha PSDB/DEM, e Serra sempre deixou bem claro seus interesses em retomar “parcerias estratégicas” com o Tio Sam. Para ilustrar melhor o que quero dizer, basta lembrar a enorme subserviência do então presidente Fernando Henrique Cardoso, as diretrizes de Washington e na tentativa de desmonte das instituições nacionais, com vistas a transformar o Brasil e a Amazônia num quintal norte-americano. Vale lembrar que foram consensos do que seria melhor(melhor leia-se segundo o governo estadunidense), que ajudaram a impor a ditadura militar no Brasil e em toda América Latina.

Exemplo 2: A gestão tucana em São Paulo privatizou todas as contas públicas transferindo o dinheiro do estado para bancos privados, aumentando ainda mais a divida pública, e além disso, congelaram os salários dos docentes criando um famigerado “Plano de Demissão Voluntária” para professores de nível superior, mestres e doutores, causando assim a debandada de um terço deste segmento (que leva cerca de 40 anos para se formar) para as faculdades particulares.

Tudo isso em nome da prostração ideológica neoliberal que ditava os rumos da economia de boa parte dos países ditos desenvolvidos, principalmente Inglaterra e EUA.

Essa carga de misticismo e preconceito das classes mais abastadas é oriunda ainda da política cafeicultura que na História do Brasil nos séculos passados dominou boa parte da política. A lógica era que os barões das famílias tradicionais brasileiras deveriam dinasticamente sempre dominar e sub-julgar as classes negras e mais pobres. Herança direta do colonizador europeu branco, cristão e anglo-saxônico.

Há de se comentar que o governo Dilma será feito por setores que ainda bebem nestas fontes de preconceito e domínio monopolista do grande capital. No entanto o grosso destes ainda está bem definido com o PSDB/DEM.

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