5 de julho de 2009

LUTA DE CLASSES IDEOLÓGICA

Na arena ideológica o idealismo filosófico, a religião, a teologia e todas as formas de fideísmos e misticismos enfrentam um inimigo comum: o materialismo.

Platão, filósofo da antiguidade, já nos falava da luta entre os amigos das formas e os amigos da terra, para exprimir o embate existente dentro da filosofia entre idealistas e materialistas. Para ele o verdadeiro filósofo tem como tarefa saber dividir, separar e traçar linhas de demarcação entre estas duas tendências opostas que se digladiam. Como sabemos, os discípulos de Platão, fundador do idealismo, rasgaram uma obra de Demócrito, um dos maiores expoentes do materialismo antigo e fundador da teoria atômica.

A luta de classes ideológica é basicamente expressa pelo binômio espírito-matéria, sendo, de certa maneira, todas as tendências filosóficas reduzidas ao materialismo ou ao idealismo. “Não há uma terceira via, meias-medidas, posições intermediárias. No fundo, há apenas materialistas e idealistas” (Althusser). A luta de caráter fundamental entre materialistas e idealistas “traduz as tendências e a ideologia das classes inimigas da sociedade contemporânea”, declara Lenin. “A filosofia moderna está tão impregnada do espírito de partido como a de há dois mil anos”.

Dessa forma, o ponto gnosiológico fundamental de qualquer tendência filosófica resume-se à questão de saber qual a origem do nosso conhecimento, o que é primordial e o que é secundário: a matéria ou o espírito, a idéia ou a realidade. Para os materialistas é a matéria, entendida como realidade objetiva, a fonte de nossos conhecimentos. Por seu turno, os idealistas declaram ser a idéia, o espírito, o elemento primordial e anterior que dá origem ao mundo e ao homem.

Ao passo que os ideólogos reacionários nos dizem, assim como disse Berkeley, “que a matéria é uma idéia”, ou que “não podemos conhecer a realidade das coisas”, decretam a impotência da razão humana para desvendar os segredos do universo, abrindo caminho para a religião. Em um esforço semelhante, Kant fundamenta a ciência contornando o materialismo, para justificar dogmas religiosos. O filósofo “sentia a “necessidade de provar a subjetividade do espaço”. Ou seja, pretendia demonstra que o espaço nada mais era que uma construção mental. Na mesma linha, podemos encontrar declarações do tipo: “não é a natureza que nos impõe, somos nós que os impomos à natureza”, para negar a objetividade das leis naturais.

Podemos perceber, pelo modo que desenvolve sua resposta, que o idealismo abre as portas para a religião e para todas as concepções pré-científicas do mundo. Ele não só abre as portas como é uma variante filosófica da doutrina judaico-cristã. Para Jacob Bazarian, o idealismo fundamenta e defende a religião e a concepção criacionista do mundo, e, consequentemente, contrapõe-se à força progressista da ciência e da democracia. O idealismo filosófico é a expressão dos interesses econômico-políticos das classes dirigentes, interessadas em manter o povo na ignorância para dominá-lo.

Quando o cristianismo é elevado à religião oficial do Império Romano, por Constantino, trata de estabelecer o seu domínio “no terreno mental, espiritual e ideológico e impedem a emergência de qualquer outra modo de pensamento” (Onfray). Bibliotecas são destruídas, milhares de livros queimados, academias fechadas, filósofos e seus seguidores perseguidos e queimados em fogueiras. Tudo que cheirasse a materialismo, ateísmo ou contrariasse a linha ortodoxa da igreja não careciam de piedade, provando que o amor ao próximo tem limites e o perdão às ofensas também.

Assim, os epicuristas foram por muito tempo os inimigos privilegiados dos cristãos, “pois Epicuro fornece um arsenal capaz de prejudicar o cristianismo no poder oferecendo uma metafísica, uma ética, uma sabedoria, uma política sobressalentes” (idem). Pelo seu materialismo, seu hedonismo e sua irreligião, o epicurismo apresenta um arsenal de idéias que ameaça a ideologia dominante.

Esse embate ideológico acabou? Não! Continua! Hoje esse conflito ideológico é travado na filosofia, na política, nos partidos, na universidade, na luta dos trabalhadores rurais pela posse da terra, nas ciências sociais e naturais. Assim como a história é a história da luta de classes, a história da filosofia é a história da luta entre idealistas e materialistas.


Por: Jorge Pontes
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