5 de dezembro de 2010

PRECONCEITO OU FALTA DE CONHECIMENTO?

Por Gilbert Angerami*

Dando continuidade à divulgação das melhores resenhas críticas desenvolvidas por meus alunos nesse semestre, essa semana recebemos a visita das representantes do Centro de Cultura Negra Negro Cosme da cidade de Imperatriz/MA. Lembro mais uma vez que, para quem não sabe, resenha crítica é um texto que, além de resumir o objeto estudado, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e/ou negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também denominado de recensão crítica. Leremos a seguir o resultado do trabalho e o que os alunos transcreveram:

A existência do Centro de Cultura Negra Negro Cosme (CCNNC) assim como de outros movimentos a favor dos negros é uma prova das constantes lutas e dificuldades que eles ainda enfrentam desde a proclamação da sua liberdade. Isso é reflexo da grande hipocrisia com relação ao preconceito que ainda impera na sociedade, não só brasileira, mas também em todas aquelas que, infelizmente aderiram ao regime escravista. O negro sempre foi considerado como inferior e procura arduamente desmitificar a imagem negativa criada desde os tempos remotos da colonização. É sabido que a sociedade em que vivemos valoriza outro estereótipo, o que de certa forma, resulta na invisibilização desse negro, fazendo surgir um efeito bastante perverso. Crianças negras, por exemplo, nunca se vêm e o que elas olham é sempre o que é diferente delas. O uso de estratégias simples, como por exemplo, a introdução de mais bonecas negras no mercado de brinquedos dentre outras, podem ter um efeito positivo para reforçar a sua identificação cultural.

O CCNNC de Imperatriz procura exatamente resgatar e valorizar essa cultura negra. Um de seus principais embates é contra o preconceito racial forte e latente em nossa sociedade. Os militantes questionam e propõem a desconstrução de certos conceitos que inferiorizam os negros. O discurso é bem fundamentado, mas em alguns momentos, beira o extremismo, remetendo a uma ‘teoria conspiratória’ contra a etnia afro. Durante o debate realizado em sala de aula, questionou-se por exemplo, a correlação da cor preta a ‘coisas ruins’ e a origem etimológica de algumas palavras. A cultura ocidental associa a cor preta à morte, ao luto, assim como em alguns países do Oriente é a cor branca que simboliza tais situações. Não se trata apenas de nossa formação cultural, mas das sensações psicológicas que a cor nos proporciona dentro desse contexto. Algumas palavras do nosso vocabulário negativizam a cor preta – denegrir, como foi citado no debate – mas, embora sua origem tenha cunho preconceituoso, seu uso é constante e quase inevitável. Se levarmos ao pé da letra, muitas palavras – inclusive nomes próprios – precisarão ser abolidas dos nossos dicionários.

É inegável que a discriminação étnica é ferrenha e infundada – visto que grande parte do povo brasileiro descende dos africanos – mas é preciso lembrar que a luta pelo respeito, pela igualdade, deve continuar pautada na valorização do negro enquanto ser humano e cultura e não enquanto cor.

Atualmente, é lei e obrigatório que as escolas ensinem temas relativos à história dos povos africanos em seu currículo. A pluralidade cultural é um tema que pode ser abordado de forma transversal, em várias disciplinas. Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecem que a diversidade cultural do país deve ser trabalhada no âmbito escolar e isso é o que o CCNNC procura reforçar nas escolas de Imperatriz. É necessário enfatizar a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A abordagem de temas como: inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, se há discriminação por parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, etc, propiciam o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.

O que podemos afirmar é que o preconceito não está atrelado simplesmente à etnia, sexo ou origem; mas o fato ser diferente, não é o que a sociedade prega como ideal.

O trabalho de conscientização realizado através da educação é sem dúvida um grande viés para a erradicação desse, que ainda hoje atormenta a maioria da população brasileira, preconceito racial que para muitos não está apenas na cútis das pessoas, mas sim nas almas e mentes dos que se dizem não negros. Preto é cor e não raça. Trechos das resenhas críticas dos alunos Clésio Mendes e Letícia Vale.

*Gilbert Angerami é Doutor em Comunicação e Cultura, Mestre em Marketing, jornalista, publicitário, ator e professor Adjunto III da UFMA - Campus Imperatriz. Mande seus comentários para o e-mail: gilbertangerami@hotmail.com

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