1 de dezembro de 2010

As drogas e a velha luta do bem contra mal


Recentemente em nome do combate ao tráfico de entorpecentes uma verdadeira operação de guerra foi deflagrada na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão, conjunto de favelas da Zona Norte, constituído por um complexo de 13 favelas, estando algumas das mais violentas da cidade. Boa parte da mídia vem caracterizando a ação como uma verdadeira luta do “bem” contra o “mal” onde do lado dos mocinhos a policia e o Estado guerreiam ferozmente tal qual nos melhores filmes de ação contra os “malvados” traficantes de drogas como cocaína, maconha e crack, lança-perfume e etc.

Recentemente em Imperatriz vimos a ex-presidente da União Municipal dos Estudantes, UMES, ser presa em flagrante com significativa quantidade de cápsulas de cocaína, fato esse que causou reações por parte da sociedade imperatrizense das mais diversas naturezas, tais como decepção, consternação, vergonha, etc. Um certo ar de hipocrisia pareceu também tomar as mentes pensantes de alguns ditos jornalistas de “porta de cadeia”, talvez satisfeitos por terem feito uma matéria de grande audiência.

Uma cortina de fumaça encobre a mente de gerações nascidas com a política de criminalização das drogas. Mas não é fácil mudar a atitude de quem passou boa parte da vida lendo e ouvindo que a guerra às drogas busca libertar a humanidade do mal gerado pelo consumo de substâncias depreciadoras da raça humana. Infelizmente, os períodos de radicalização desta guerra escurecem ainda mais a fumaça que encobre o lado racional dos indivíduos.

A abordagem midiática dos confrontos em andamento no Rio de Janeiro, por exemplo, mascara uma realidade muito mais complexa e difícil de ser mudada. A ocupação do Complexo do Alemão foi aceita pela sociedade como uma legítima vitória do bem contra o mal. Devemos sim, celebrar a expulsão de criminosos que estabeleceram um poder fundamentado na força bélica. Mas limitar os trabalhos da segurança pública a esse nível é manter a velha política de enxugar gelo.

Ademais soa até como uma blasfêmia falar em legalização da maconha (na Califórnia EUA houve um plebiscito recentemente sobre) em períodos em que um sentimento fascista toma conta de parte da população. Mais uma vez, é preciso lembrar que são gerações que nasceram em cresceram neste ambiente de criminalização e demonização das drogas. Provar para essas pessoas que em um passado não muito distante a relação entre o homem e as drogas ocorria de forma bem mais harmônica e civilizada é um dos principais desafios para o movimento antiproibicionista.

De todas as operações montadas para "caçar as bruxas" do crime organizado, nenhuma delas foi além dos criminosos das favelas. Não se investiga a lavagem de dinheiro que é feita nos mais respeitáveis setores da economia formal, não se investiga como armas de alto poder de destruição viajam por milhares de quilômetros até chegar às comunidades.

Seria de uma enorme ingenuidade acreditar que a expulsão de traficantes do seu principal reduto de poder resultará no encerramento das atividades ilegais. O buraco deixado pelo enfraquecimento da quadrilha que dominava o comércio varejista de drogas no Rio de Janeiro será rapidamente ocupado por novos sócios.

Em síntese: buscar um novo modelo, uma nova forma de se tratar o problema das drogas é essencial e vai muito mais além de uma “simples” guerra do bem contra mal.

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6 comentários:

Xerxes Aguiar disse...

PARABÉNS FOI ESSE PENSAMENTO QUE PERMITIU QUE O TRÁFICO DOMINASSE O RIO. E SÃO OS "PAZ E AMOR" QUE FINANCIAM TODA AQUELA BARBÁRIE.

Cristiano Capovilla disse...

Parabéns pelo texto. É bom lembrar que existe algum debate sobre a legalização de algumas drogas que hoje são consideradas ilegais, como o caso da maconha.

Um dos defensores dessa tese é o ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso.

De fato, nada do que é humano pode ficar fora da análise e do escrutínio racional.Portanto, o debate sobre as drogas é necessário e pertininte.

Saudações.

Carlos Leen Santiago disse...

Meu caro:
Eu imaginava que vc fosse menos reacionário mas pelo visto não se trata somente de posição ideologica, mas também de equivocos. Quem financia o tráfico no Rio e a familia burguesa cristã hipócrita que, assim como vc vem defender os valores tradicionais da moral e dos bons costumes, mas que por trás utiliza os serviços do morro.
Não sei a quem vc se refere quando diz "paz e amor" se for os hippies, estes ai sao os consumidores menores.
Saia de Imperatriz,viaje um pouco e pare de tirar conclusoes só pelo que ve na novela.

Carlos Leen Santiago disse...

Caro Cristiano:
Eu fico lisongiado com seu comentário aqui no Blog.
Você é uma das grandes mentes pensantes desse Estado.
Valeu

Xerxes Aguiar disse...

NÃO SEI SE É O SEU CASO, MAS JÁ ESTIVE NO RIO EM UM CONGRESSO CULTURAL DA UNE. E SEI MUITO BEM QUEM CONSUME AS DROGAS AQUI E LÁ. PAZ E AMOR USEI PARA DESIGNAR TODOS QUE EM INTERESSE PARTICULAR, ISSO MESMO PARTICULAR E NÃO COLETIVO DEFENDEM A LEGALIZAÇÃO DE MAIS DROGAS. NÃO LEMBRO DE JÁ TER SIDO VISITADO POR VC PARA PODER AFIRMAR QUE TIPO DE PROGRAMAS ASSISTO OU NÃO E DEIXE DE SER INGÊNUO E ROTULAR DE REACIONÁRIO TODA ANTITESE AOS SEUS PENSAMENTOS, QUEM DISSE QUE VC E QUEM PENSA COMO VC É A VANGUARDA???? VC ASSIM COMO EU NÃO SOMOS OS DONOS DA VERDADE.

Gidel disse...

No dia que proibirem o uso de cigarros e cervejas inicia-se um novo produto para tráfico, novas confusões e novas guerras... "É proibido proibir"... Todas as drogas sempre estiveram ai disponíveis(até as proibidas por lei), mas é a conscientização que leva a uma real libertação.

Somos alvo de nossos próprios vícios mesmo que nao causem dor, mas afetam o bolso.

Vamos condenar sim, quem trafica, este é o verdadeiro fora da lei.