15 de maio de 2010

Lilia Diniz expõe a forma desrespeitosa com que os artistas de Imperatriz são tratados

Por Lilia Diniz
No dia 13 de maio soube por um amigo, agente cultural da Imperatriz, que iria acontecer no dia seguinte das 14 às 18h, na Escola Amaral Raposo uma Oficina ministrada pela Funarte. Oficina destinada à Capacitação para Multiplicadores dos Microprojetos Mais Cultura na região, que vem percorrendo vários municípios brasileiros.
Não poupei esforços e articulei, junto a Fundação Cultural de Imperatriz e ao Fórum de Cultura, além da minha lista pessoal de e-mails, a mobilização de artistas e produtores culturais da cidade, no intuito de democratizar a participação, haja vista que a Oficina, caiu de pára-quedas na cidade.
Viabilizada pela Secma, o modo como a tal Oficina chegou até nós, é reflexo da gestão desastrada do secretário de cultura do estado. Pautada na falta de diálogo e na centralização das decisões, a gestão é pífia e nos coloca no retrocesso histórico, que, aliás, é marca da oligarquia, que através de um golpe judicial, entregou o Estado a Roseana Sarney, cai bem lembrar o slogan parafraseado: “Maranhão: de volta ao atraso”.
Estive na tal Oficina e fiquei bem animada com a participação de mais de vinte pessoas, muita gente para o pouco tempo de mobilização.
A Oficina, que na verdade, não passou de uma breve passagem de slides, teria sido razoável não fosse a petulância da diretora executiva da Fundação Nacional de Artes (Funarte), a senhora Myriam Lewin.
Senhora da verdade suprema, Myriam Lewin mancha a história de uma instituição que vem contribuindo com a grande mudança no cenário da cultura nacional, a Funarte, ao se dirigir de modo grosseiro a mim, chegando a me deixar constrangida diante das pessoas que ali se encontravam.
Sucede que, mesmo reconhecendo a importância dos 43 editais, dos quais sou divulgadora para minha lista de e-mails, mesmo compreendendo as limitações orçamentárias para contemplar a todos de modo satisfatório, não perco a minha capacidade crítica de entender que este é um ano eleitoral, logo prevalece a distribuição de migalhas aos que sempre receberam migalhas, sem reclamar. Eu reclamei.
Ao abordar sobre os descontos de impostos, do referido edital, para pessoa física que pode chegar a 27%, sob o valor de R$ 17.850,00(dezessete mil oitocentos e cinqüenta reias), a senhora Myriam Lewin, deixou clara a postura de uma elite que não quer a divisão igual de renda, que nós artistas pobres, nordestinos, excluídos, herdeiros das senzalas, tribos indígenas e ciganos, temos que fazer arte por amor e nos conformar em roer o sabugo do milho.
Segundo ela “o critério de ganhar pouco é relativo” e que “se no sul é necessário cem mil para fazer um projeto, aqui nós podemos adequar e fazer com dez”, afinal “a idéia não é ganhar dinheiro”. Quero saber se ela veio, por amor, ministrar a Oficina. Eu só faço arte por amor e preciso muito do dinheiro que ela me propicia, criei três filhos vivendo de arte, para arte, com arte.
Esclareço a esta senhora que artista é trabalhador, que vivemos em um sistema capitalista, e que, se a destinação de recursos para o fomento à cultura do sul e sudeste tem sido maior do que o fomento para as outras regiões, nós não concordamos e nem por isso queremos que eles passem a receber menos, nós queremos é chegar a um nível de igualdade no qual possamos desenvolver nosso potencial artístico e cultural, sem discriminações, protecionismo ou amadorismo.
Lembrei de uma situação que vivi quando adolescente ao denunciar as condições precárias da escola em que estudava e por isso fui suspensa por quinze dias. Isso pesou tanto que não consegui reagir à altura. As lágrimas desciam em enxurrada e um nó me apertou a voz. Felizmente ainda conseguir dizer a ela, e aos presentes, que ela estava me constrangendo e estava muito armada. E que, se fosse para mostrar as armas eu também as tenho, a começar criticando a forma, como a tal Oficina chegou até nós.
Fiquei extremamente constrangida pela forma grosseira como fui tratada, além de ter sido considerada, por ilustre senhora, como “debochada e desinformada”. Quem me conhece um pouco sabe que minha história de vida e ativista cultural tem sido pautada pela responsabilidade e compromisso com a formulação de políticas públicas, não somente para cultura. E compreendo que a política de editais é uma conquista dos artistas organizados contra os apadrinhamentos políticos, as negociatas de balcão e não deve ser vista como favor ou ainda, porque o gestor é bom ou amigo da cultura.
Estou me expondo, eu sei, e não quero passar por coitadinha. Estou denunciando a forma como alguns executivos, que pensam serem donos do poder e do conhecimento absoluto, usam de seus cargos para humilhar, menosprezar e tentar coibir qualquer manifestação de insatisfação. Posturas como esta desmontam toda essência de um trabalho que vem sendo construída por vários trabalhadores do MINC, na perspectiva do diálogo, descentralização, diversidade e respeito às diversas opiniões, exemplo disto foi a larga consulta feita para elaboração do Sistema Nacional de Cultura, do Plano Nacional de Cultura e das mudanças na Lei de Incentivo, da qual me orgulho de ter sido colaboradora.
Pessoas como esta senhora, desqualificam o serviço público e serve de grupos sociais ligados ao poder, nunca a população no geral.
Esta prática antidemocrática e autoritária é a base dos executivos despreparados, descomprometidos, e como dizia Charles Chaplin: toda unanimidade é Burra. Não penso e não sou obrigada a ser conivente com as determinações do governo. Tenho senso crítico e o uso por competência e compromisso com a arte, com a cultura popular, com a dignidade humana e com as políticas públicas.
A tal Oficina não caiu de pára-quedas, como disse no início, caiu foi de tijolada e “acertou bem dicunforça na minha mulêra”, que nem coice de jumenta parida!
E pra não dizer que só reclamei, vai uma poesia pra desengasgar meu gurgrumim.
Não quero que meus versos batam à porta de ninguém. Prefiro que entrem pelas fechaduras lacradas dos ouvidos dormentes Que eles saltem as janelas dos olhos enquanto estes dormem e despertem desejos nos pesadelos das noites em claro Que desçam pelas frestas dos velhos telhados pensamentos e os renovem antes que o inverno das dores de gota em gota afogue a esperança do dia ensolarado Quero meus versos inconvenientes invasores sorrateiros Pela necessidade do susto que nos tira a rotina medíocre dos dias

Lília Diniz é artista, poetisa, membro da Acadêmia Imperatrizese de Letras e do Forum Municipal de Cultura
Não quero que meus versos batam à porta de ninguém.
Prefiro que entrem pelas fechaduras lacradas dos ouvidos dormentes
Que eles saltem as janelas dos olhos enquanto estes dormem e despertem desejos nos pesadelos das noites em claro
Que desçam pelas frestas dos velhos telhados pensamentos e os renovem antes que o inverno das dores de gota em gota afogue a esperança do dia ensolarado
Quero meus versos inconvenientes invasores sorrateiros
Pela necessidade do susto que nos tira a rotina medíocre dos dias

Lília Diniz
é artista, integrante do Forum de Cultura de Imperatriz e membro da Acadêmia Imperatrizese de Letras
Texto extraído do site Praça da Cultura: http://www.pracadacultura.com/
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1 comentários:

Anônimo disse...

E pensar que essa mulher é a atual Presidente em Exercício da FUNARTE, meu Deus...