26 de março de 2010

Glauber Rocha e o Exército brasileiro


De tudo que vi e li de Glauber Rocha, que para a desgraça do nosso povo já não está mais conosco, um assunto que muito me azucrina é ter ele ficado decepcionadíssimo com o papelão dos militares brasileiros em 1964. É que não perdoou, com toda a razão essa atitude reacionária e antipovo das Forças Armadas, mas tal decepção não significa que ele tivesse uma abordagem de esquerda antimilitar.

Exu do mal, Carlos Lacerda o perseguiu porque o golpe de 64 foi na política uma resposta simbólica ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Esse lindo filme assombroso foi no ano de 1964 o triunfo do cinema brasileiro contra o imperialismo “Roliudyanus”. Abaixo a mais-valia ideológica póstuma dos peritos e especialistas glauberianos.

Em Deus e o Diabo, o latifúndio, os capangas e a Igreja é que são detonados, assim como em O Dragão da Maldade não é o exercito que fuzila o povo, tampouco em Terra em Transe: quem dá o golpe em Eldorado é a empresa multinacional em conluio com a televisão local.

Em Idade da Terra ouvimos o aparecimento em África de generais nacionalistas. Tarcisio Meira faz o papel de um caudilho militar didatizando a intervenção progressista do Exército na historia do Brasil, abolição, Republica, etc.
Nada é poupado em sua critica a estrutura social e política da sociedade brasileira: latifúndio, barões da terra, burguesia industrial, empresários portuários e artistas subordinados pelo sistema, sindicatos oportunistas e tradeucionistas.

Duas coisas no entanto não são objeto de sua fúria: o povo, subassalariado, marginalizado (embora o misticismo deste seja mostrado como reflexo da fome) e o Exército, o que dá margem a pensar que Glauber acreditasse na propensão nacionalista do Exército formado de classe média, porém essa mitologia teria sido desmontada com o golpe de 1964, data a partir da qual ele mais escreveu e filmou até morrer em 1981, de mofdo que uma visão progressista das Forças Armadas brasileiras se chocava inteiramente com a realidade objetiva, pois a derrubada de João Goulart foi para cortar o nacionalismo trabalhista e suas Reformas de Base.

Artistas, marxista, nacionalista, Glauber tinha tudo para considera o Exército o vilão da historia recente do Brasil, porém não o fez, nem em seus filmes, livros e entrevistas a jornais. Seria doideira afirmar que ele aventava a hipótese de um dia o Exército lutar ao lado do povo oprimido e marginalizado, como se as Forças Armadas pudessem ser o santo guerreiro contra o imperialismo dragão da maldade.

O personagem Antonio das Mortes não é um representante do Exército, e sim um mercenário maluco, exterminador de cangaceiros e miseráveis sem-terra, mas o que não resta dúvida na visão glauberiana é sua oposição radical a ocupação colonialista e imperialista do Brasil. Mas por que ele não incluiu o Exército brasileiro como tropa de ocupação do domínio imperialista?

Quatro ou cinco dias antes da derrubada de Jango, no 1° de abril, Exército nas ruas do Rio de Janeiro, Glauber viajava para a Europa a fim de mostrar Deus e Diabo no festival de Cannes. Não estava aqui, recebeu de fora do Brasil a notícia do golpe. No seu romance de 1977, Riverão Sussuarana, deixou claro: falso general, não!

General tem que ser popular”. Nenhum general conseguiu tal proeza, mas a análise da historia do Brasil o levou a não subestimar a função dos militares, inclusive porque um território rico desarmado era presa fácil dos invasores estrangeiros, que é o tema do romance Riveirão.

Glauber pirou. Se drogou demais. Sua preocupação era a de alertar sobre a estratégia neocolonial e imperialista que consiste em deixar o território brasileiro cada vez mais desarmado, portanto vulnerável e indefeso as ingerências externas, tanto com a vinda dos marines, quanto com os billgatesdieselboys foliando com o trio elétrico tropicália no Carnaval da Bahia.

Diferente de Arnaldo Jabour, que não fez senão badmovie, Glauber Rocha estaria hoje na Venezuela de Hugo Chavez dando uns “klôses” gênios na rede de dormir do Palácio Miraflores.
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