24 de janeiro de 2012

CESTE ESTREITO - HIDRÉTRICA QUE NÃO ENGANA

Por Adalberto Franklin

Os jornais deste domingo a nunciam que o Consórcio Estreito Energia (Ceste) "confirma apoio aos desabrigados" da enchente do Rio Tocantins, causada pela liberação repentina e sem aviso prévio de suas comportas. A leitura apenas da manchete dá a impressão de que a empresa realmente se compromete a fazer um gesto de responsabilidade à altura dos prejuízos causados, mas não foi isso que aconteceu. Os redatores da matéria gastaram um monte de parágrafos, "enchendo linguiça", apenas para dizer que a empresa enviara colchões para os desabrigados.

É realmente um acinte o descaso da Ceste com os municípios impactados por esse empreendimento. Até hoje, há diversas ações mitigadoras não cumpridas com as comunidades ribeirinhas e com os municípios. E há diversos impactos que agora ocorrem sem que tenham sido previstos no projeto da obra, o que leva a crer que os relatórios de impacto ambiental foram mal dimensionados (ou mesmo propositadamente escondidos).

Foram assumidos impactos praticamente a montante (rio acima) da barragem, quando os demais, a jusante, estão agora sentindo os efeitos danosos e prejuízos financeiros não previstos. Desde Estreito até São João do Araguaia, os municípios agora são obrigados a arcar as despesas com as constantes cheias do rio, em que se veem obrigadas a dar socorro, abrigo e alimentos para as famílias atingidas. Além disso, no período de veraneio não podem mais contar regularmente com suas praias fluviais, que geravam ocupação, renda e atividades esportivas e culturais.

Não se compreende como os gestores desses municípios se contentam com esse mísero "apoio" de uma empresa privada, causadora de tamanho dano, que vem sendo injustamente pago com o dinheiro do público (do próprio povo). A se manter essa postura, daqui pra frente os municípios tocantinos terão que reservar uma boa parcela do seu orçamento somente para cobrir os impactos provocados por essa empresa, reduzindo ainda mais a capacidade de seus investimentos.

Pelo que se sabe, o projeto da Ceste não previu nenhum impacto sobre Imperatriz, mas nesse pouco tempo já deu muitos prejuízos ao município. A continuar assim, muitos milhões terão que ser gastos para cobrir os prejuízos causados pela Ceste, que ganhará centena de milhões vendendo sua energia sem qualquer responsabilidade com a região.

(Adalberto Franklin é historiador)
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