Na noite do dia 28 de junho – domingo passado, militares entraram em confronto com a guarda presidencial de Manuel Zelaya – presidente eleito em Honduras. Tal ação decorreu da própria ordem do judiciário, apoiada pelo legislativo e executivo, como oposição a decisão de Zelaya em manter uma consulta à população hondurenha sobre se ter ou não uma assembléia constituinte em tal país. Os reais motivos, políticos, econômicos e sociais, certamente se clarificarão nos próximos dias, assim como também deveremos elucidar as tenras relações entre o governo norte-americano com a mais alta classe econômica presente em Honduras, classe ligada sobre tudo a extração madeireira e mineradora pelo que tem me parecido.
Acontecimentos parecidos tem dado a tônica do que é o quadro político mais geral em quase toda a América Latina, desde a fraude eleitoral ocorrida no México – que desencadeou em lutas populares como a de Oaxaca, até a tentativa de golpe em Hugo Chavez (ver o documentário *A Revolução não será televisionada*). A história nos permite com as devidas licenças, estabelecer paralelos com outras ditaduras, como a no Chile no golpe executado com apoio da CIA sobre Salvador Allende e também no próprio Brasil sobre João Goulart.
Um dos paralelos possíveis é a forma como a própria mídia se porta diante de situações assim. Gripe suína e morte de Michael Jackson não permitem uma análise mais profunda do que realmente está acontecendo, e o tratamento dado resumisse na grande maioria das vezes como “Honduras troca de presidente”, como li em um jornal hoje pela manhã (em uma dessas matérias vindas de agências internacionais que são reproduzidas por centenas de jornais ao mesmo tempo e com o mesmo conteúdo). De representações, vimos muito no Brasil entre as décadas de 60 e 80. O historiador Marcos Silva já havia comentado “Imagine se a ditadura fosse desavergonhada”.
Lamentavelmente, é visto que também a ação física contra militantes sindicalistas em Honduras não é tão distante da mesma ocorrida no Brasil contra manifestantes em greve na USP. Se o historiador Josep Fontana esteve certo quando afirmou “*um dos maiores desafios que hoje se apresentam a nós, historiadores, é o de que voltemos a nos envolver nos problemas de nosso tempo*”, então devemos nos lembrar que em meio a jornalistas, cientistas sociais, economistas e outros intelectuais, nós historiadores temos as condições de esclarecer para a sociedade, quais os males que uma ditadura militar pode trazer ao conjunto de um povo, e principalmente: sob quais necessidades.
Desta forma, me desculpando por este texto “panfletário”, gostaria de clamar para que todos que – sendo como disse Jean Chesnaux “franco atiradores” ou “militantes organizados”, ajudem a divulgar o que tem ocorrido em Honduras, ainda que isto signifique um esforço no sentido de nos desdobrarmos para analisar e discutir o que este fato nos mostra, e mesmo que para isto tenhamos que deixar nossas confortáveis poltronas ideológicas, e assentos anexos de ingênuos “estudantes”, ditos apenas: observadores.
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