Inspirado hoje pela poesia de Lília Diniz, resolvi elaborar esta breve postagem. A título de conhecimento informo que minhas andanças pela nossa região também me animaram a produzir.
Em meados dos anos 80, lembro-me claramente que ainda criança, morador de João Lisboa, uma das nossas diversões era visitar amigos na pouco distante “Mucuíba” hoje , município de Senador La Roque, e por lá me lembro que nas nossas perspectivas de vida, não lá muito animadoras, pensávamos em sermos jogadores de futebol e assim poder nos “vingar” de toda a má sorte reservada ao povo da “Mucuíba”. Havia inclusive um dizer popular que, pejorativo, sempre associava a todo tipo de desgraça o distante povoado: “menino, vai ser burro assim na Mucuíba” e etc. Meu pai lecionava numa escolinha da qual não me lembro o nome e por lá talvez nem mais exista, quase um fundo de quintal, que eu sempre acompanhava e nos intervalos ia pra o meio do terreiro jogar pião, ou, na melhor das hipóteses, comer manga e caju a vontade. A placa indicado o local da escola era triste, a cor meio amarelo claro, com letras negras grandes, trazia uma atmosfera sombria para a nossa infância.
Essa historia real, parte do meu “romance pessoal”, eu contei a alguns adolescentes com quem eu trabalhei recentemente no longínquo povoado do Cumaru, uma das regiões mais pobres da hoje cidade de Senador La Roque. E contei mais: que em menos de 15 anos depois eu já poderia me considerar a caminho da vitória sonhada. Eu tinha entrada em curso superior em Imperatriz e já estava trabalhando como professor.
A nossa conversa basicamente era sobre política e eu os perguntava se eles tinham conhecimento de quem fora o homem que agora batizava o nome da cidade. Falei-lhes também sobre eleições na América Latina e no Maranhão, de como era importante elegermos forças populares para garantir alternativas de vida que não sejam caminhos de pobreza, criminalidade, prostituição. Destino a que fica relegada gente como eles ( e como eu).
E falei sobre a minha experiência não como exemplo de “self made” (homem que venceu na vida), exemplo a ser seguido. Não. Mas, que na realização da minha perspectiva de vida uma única coisa teve grande valia nisso tudo: a força de lutar (da raiva, da vingança, etc) que me transformou vida a dentro sair da condição de oprimido. Minha sensação de exito, eu tive pela primeira vez quando li, nos anos remotos da graduação, as palavras de O Capital, de Karl Marx:
“A história de todas as sociedades que já existiram é a historia da luta de classes: homem livre contra escravo; patrício contra plebeu; senhor contra servo; mestre da corporação contra artífice assalariado – em suma – opressor contra oprimido – em constante oposição um ao outro, sempre em luta ininterrupta, ora velada, ora declarada, uma luta que sempre terminou na reconstituição revolucionária da sociedade em geral ou na ruína comum das classe em oposição.”
Terminei minha fala (uma espécie de discurso de fim de ano) que nada me deixara mais feliz do que poder ter saído do meu “terreirozinho” e de ter vencido parte dos monstros da opressão, entre eles os meios de comunicação de massa. A “informação de mão única”, como diz Marilena Chauí: “veiculadas pelos meios de comunicação de massa, que universalizam para todas as classe sociais os interesses e privilégios da classe dominante...”. Essa dominação, disse eu, perpassa até mesmo na escolha do nome do município por políticos que sempre se comprometeram nestes processos de alienação social e política das demais classes, identificadas com valores, idéias, comportamentos e interesses dos dominantes.
Descrever esta história para os meus alunos foi pra mim uma felicidade e uma homenagem a eles - uma forma de ajuda-los a encontrar neles mesmos também a força da luta de vingança, que os leve a reconstituição revolucionária da honrosa sociedade em que vivemos.
“Viva Bananal, Viva Suma-Uma, Viva Mucuíba, Viva Ribeirãozinho”, etc...
1 comentários:
É bom conhecer essa história. Parabéns, o texto está muito gostoso de ler.
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