2 de janeiro de 2018

Livros sobre a região tocantina: "Imperatriz: A Terra da Pistolagem"


Uma das grandes obras que ficará marcada na Sociologia local é o trabalho da pesquisadora Natália Mendes, intitulado: Imperatriz: A Terra da pistolagem. Para aqueles que já passaram dos 35, o termo é bastante familiar e remete ao tempo e lugar nosso que chegou a ser tipificado assim nacionalmente. 

Eu mesmo, criança, cheguei a ver o termo virando piada em um quadro humorístico do programa "Chico Anysio Show".  

- Quer contratar um pistoleito? Ligue em qualquer número utilizando o 721 (dizia o personagem se referindo ao então prefixo de Imperatriz-MA). 

Imperatriz e toda a região tocantina em seus ciclos migratórios, graças a projetos desenvolvimentistas experimentou uma fase de grandes conflitos fundiários que deixaram muitos rastros de sangue. 

Paralelo a tudo isso, os meios urbanos e crescentes da cidade experimentaram uma rotina de faroeste com assassinatos de prefeitos e figuras públicas que marcaram a época ao longo história. O cardápio de violências não parou por aí. A própria máquina estatal também coadunou para aumentar os indicadores. 

A famigerada "Operação Tigre", notabilizada pelo grau de derramamento de sangue de culpados e inocentes, colocou o aparelho repressor do Estado em plena funcionamento, eliminando agentes, fazendo a chamada "limpeza social" da área.  

Assassinatos de prefeitos e líderes camponeses ligados a igreja católica (Padre Josimo), intervenção violenta do Estado - todos estes fatores são minuciosamente analisados pelo olhar da socióloga Natália Mendes, que nos brinda com uma pesquisa de fôlego, essencial para se conhecer a história de um povo e sua região.  

O texto recheado de referências busca em dado momento debater quais fatores estão por trás do fenômeno da pistolagem. Novos e velhos atores ligados ao tema são apresentados sob as lentes do olhar sociológico onde comparecem pensadores como Hannah Arendt, Trotski, Weber, Foucault diálogando com pensadores renomados da região tais como Adalberto Franklin, Victo Asselin e Livaldo Fregona. 

Tudo isto faz encher os olhos do leitor para uma pesquisa viva e pulsante, coberta de significantes e significados que aos da terra tocantinense é tocante.  Assassinatos, memórias, fatos e lógicas sociais - como o próprio subtítulo do livro apresenta, faz com que "Imperatriz, terra da pistolagem" já entre para o rol do trabalhos essenciais para a compreensão da região da Amazônica Oriental. Berço do que existe de pior é melhor no mundo. Escrever e registrar tais fatos requer muita coragem nestas cercanias que ainda fazem chorar homens e mulheres. Em outros tempos e agora.
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