Bispos do Regional Nordeste 5 da CNBB (Maranhão) divulgaram carta ao
Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, na qual denunciam a
cultura da violência presente no Estado. “Não é este o Estado que Deus
quer. Não é este o Estado que nós queremos!”, afirmam os bispos. No
texto, os fiéis são convocados a realizar um gesto concreto no dia 2 de
fevereiro, Festa de Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa
Senhora das Candeias. Os bispos pedem para que seja feita “em todas as
comunidades uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da
celebração”.
Leia, na íntegra, a carta:
Ao Povo de Deus
e a todas as pessoas de boa vontade
“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)
Ainda estão vivas em nós a forte emoção e
dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a
morte violenta da Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após ter
seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no
Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na
cidade de São Luís.
A nossa sociedade está se tornando cada
vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um
modelo econômico-social que está sendo construído.
A agressão está presente na expulsão do
homem do campo; na concentração das terras nas mãos de poucos; nos
despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos altos
índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema,
no trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na auto-destruição pelas
drogas; na prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos
territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da natureza.
Esta cultura da violência, aliada à
morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em
cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso
sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a
penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos
devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais
frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro.
Vivemos num Estado que erradicou a febre
aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas
como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.
É verdade que a riqueza no Maranhão
aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a
desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem
entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é
este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus,
estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na
construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem
exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl
85,11 ) .
A cultura do amor e paz, que tanto
almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa. Nós, bispos do
Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a todas as pessoas que buscam
um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no próximo dia 2 de
fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e a paz.
Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa
Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades
uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às
pessoas comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da
celebração sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência,
como sinal do seu empenho em favor da paz.
Invocando a proteção de Nossa Senhora,
Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de
assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos
uma sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na
fraternidade e na paz.
Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro - MA, 15 de janeiro de 2014
Dom Armando Martin Gutierrez
Dom Carlo Ellena
Dom Élio Rama
Dom Enemésio Lazzaris
Dom Franco Cuter
Dom Gilberto Pastana de Oliveira
Dom José Belisário da Silva
Dom José Soares Filho
Dom José Valdeci Santos Mendes
Dom Sebastião Bandeira Coêlho
Dom Sebastião Lima Duarte
Dom Vilsom Basso
Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges
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