8 de julho de 2009

O FANTÁSTICO MUNDO DE BOBY

Quem de nossa geração adolescente dos anos 1990 não chegou a ver um desenho aonde uma criança vivia um imaginário inexistente e que só se realizava na sua mente de guri sonhador? Qualquer semelhança com os “alunos” da UEMA que utopicamente acham que realmente estudam em uma universidade e que é um “universitário” e, portanto privilegiado em relação aos que ainda não adentraram por estas portas do “conhecimento” e da “universidade”, não é mera coincidência.
Assim como nossos pais devem ter comentado sobre a ingenuidade do pequeno Boby, posso também tentar fazer uma análise semelhante quando se trata dos “alunos” desta IES. ÔÔÔHHHH meus pequenos e ingênuos “alunos”, esse sonho de universitário só existe na sua imaginação!
Em uma “universidade” que nega ajuda de custo para estudantes e professores, nega ônibus, qualquer ajuda para transportes, viagens a encontros, congressos, programações culturais de qualquer caráter com argumentos sem fundamento algum, apenas dizendo que uma instituição de ensino superior não tem dinheiro em caixa, ou melhor, tem um caixa com míseros R$ 200, 00. Meus amigos, isso no mínimo não se trata de uma universidade de verdade. Aqui mesmo poderia terminar este texto, afinal para fatos os argumentos perdem muito de sua força.
Numa instituição alagada por maus e corruptos administradores desde a sua constituição e que por conseqüência disso se vê afogada na sua própria lama de mazelas, precarização e sucateamento, o resultado final não deveria ser outro, se não o total desprezo em se afirmar concretamente enquanto uma verdadeira instituição de ensino e de produção de conhecimento referenciado pela sociedade, àquela a quem de fato deveria servir, ou seja, aos trabalhadores que a sustentam com seus impostos. Nesse sentido o produto de tal IES, isto é, os estudantes, jamais seriam outro se não àqueles acríticos, covardes, apáticos, incapazes de questionar e incapazes de transformar uma sociedade pautada na desigualdade, desumanidade, injustiças, preconceitos e opressões. Esses somos nós.
Ah, Você não gostou? Ah, você acha que não te conheço e, portanto não tenho autoridade para afirmar tal coisa? Ah, você acha que não se encaixa em tal análise? Ah, você está me amaldiçoando até aminha quarta geração por conta deste texto?
Então me responda, quantos de nós temos coragem de peitar nossos mais “argutos” professores “doutores” quando os mesmos usam de sua “autoridade” hierárquica para nos humilhar com suas freqüências (aliás, 15 ou 21 faltas reprovam o estudante, quantas reprovam o professor?), com seu autoritarismo tacanho, suas aulas que muitas vezes nada dizem, seu cientificismo barato, suas provas comparativas e que não provam nada e ainda, muitas vezes, com seu desrespeito e falta de compreensão. Qual o lado que você toma quando a sua bolsa de pesquisa, monitoria, estágio atrasam, o lado do “mendigo” que vai todos os dias à PRA saber quando sairá sua bolsa que já está atrasada há quase três meses como se você tivesse pedindo favor a alguém? E o que você faz quando percebe que prestou um concurso público (vestibular) onde só depois de entrar percebe que não possui um prédio para assistir aulas? Qual foi sua reação quando foi pela primeira vez locar um livro na biblioteca e percebeu o quanto era parco o acervo (no manual do vestibular a realidade parecia outra, bem melhor que esta). Qual foi sua postura quando você perguntou pelos reagentes e simplesmente lhe disseram que a universidade não tinha dinheiro para comprar e você se deparou com um laboratório sucateado com velhos microscópios, lupas e vidraçaria. Qual foi sua postura quando teve que pisar na lama e pegar chuva, pois sua “universidade” não possui passarelas e mais parece uma fazenda dividida em casinhas cheia de “animais” e com um amplo pasto? Você questionou quando soube que a fundação que paga sua bolsa – FAPEAD – estava envolvida em um desvio de verbas públicas no valor de mais de 20 milhões e que o vice-reitor desta instituição tem cargo cativo em tal fundação? Na UNB um reitor caiu por muito menos. E isso não é tudo, temos muito mais para falar, pena que o espaço é pequeno. E agora? Ainda acham que não tenho razão em chamá-los de apáticos e acríticos “alunos universitários”?
A Universidade como indica na sua própria constituição histórica é o lugar da diversidade, do pluralismo de espaços e de saberes. Não cabe a nenhuma IES ser uma mera reprodução dos parâmetros sociais estabelecidos, mas ser instrumento para sua superação. A Universidade na sua razão de ser possui uma inequívoca vocação para ser vanguarda, ir aonde ainda ninguém chegou, desbravar, pensar além das perspectivas comuns, promover o desenvolvimento humano em sua totalidade. Antes de tudo a Universidade deve ser uma ponte, não um fim em si mesma. É também algo a ser superado. Nessa busca, a democratização da academia é mecanismo vital para a garantia de seu próprio exercício. Esta seria a Universidade ideal, aquela autônoma, democrática, laica, gratuita, socialmente referenciada e de qualidade. E este não é o caso da UEMA!
O que vemos na verdade hoje, tantos nas IEES com nas IFES é um total desmando, desmonte, precarização e privatização do ensino público, onde impera o autoritarismo e a forma ditatorial de implementar decretos e projetos de expansão sem a mínima qualidade (o Projeto Darcy Ribeiro que o diga, vamos agora ter 42polos sem um centavo a mais de verba) impostos por reitorias submissas, vassalas e subalternas a governos corruptos e que não têm nenhum compromisso com estas IES. Ao contrário, estes governos com suas políticas para o ensino superior, cada vez mais sucateiam as Universidades públicas garantindo assim, lucros exorbitantes aos tubarões do ensino privado. É necessário se encarar os espaços das instituições públicas de ensino como espaços de resistência a um sistema que prioriza o mercado, o capital e o lucro em detrimento da miséria e da falta de acesso à educação de qualidade da maioria. Isso explica a enorme necessidade que a burguesia tem de fechar este tipo de instituição.
E agora tomando partido nas palavras dos situacionistas das décadas de 1950 a 1970 podemos afirmar que:
“Recolhendo um pouco dos sobejos de prestígio da Universidade, o estudante ainda se sente satisfeito por ser estudante. Tarde demais! O ensino mecânico e especializado que recebe está tão profundamente degradado (em relação ao antigo nível da cultura geral burguesa quanto o seu próprio nível intelectual na altura em que a tal ensino acede, e isto pelo simples fato de a realidade que domina o conjunto destas coisas – o sistema econômico – reclamar uma fabricação maciça de estudantes incultos e incapazes de pensar. Que a Universidade se tenha tornado uma organização – institucional – da ignorância, que a própria "alta cultura" se dissolva ao ritmo da produção em série dos professores, que todos estes professores sejam uns cretinos, de tal modo que a maior parte dentre eles provocaria a algazarra de qualquer público de liceu –, tudo isso o ignora o estudante; e, respeitosamente, continua a escutar os seus mestres, com a vontade consciente de perder todo e qualquer espírito crítico, a fim de melhor comungar na ilusão mística de se ter tornado um "estudante", isto é, alguém que seriamente se ocupa na aprendizagem de um saber sério, na expectativa de assim lhe serem confiadas às últimas verdades. Trata-se, aqui, de uma menopausa do espírito. Tudo quanto se passa hoje nos anfiteatros das escolas e das faculdades será condenado na futura sociedade revolucionária como ruído, socialmente nocivo. O estudante, desde já, dá vontade de rir...”
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