A maior dificuldade em se produzir esse texto reside no pouco espaço que a ele se destina agora. Dedico estas linhas ao professor Edmilson Bezerra que, marxista, é fonte de conhecimento e bom humor desta Universidade.
A idéia de sistema-mundo como conhecemos hoje indelevelmente surge a mais ou menos 500 anos, quando as sociedades primitivas foram progressivamente unificadas em um novo sistema muito mais amplo e sob a influencia do antigo sistema europeu. Os agentes e promotores dessa expansão tinham motivos próprios para fazê-lo e buscavam um sentido no que faziam. Primeiro tinha-se na propagação do cristianismo a principal teoria do discurso expansionista, porem já se vivia um tempo histórico novo e logo outras idéias fariam a cabeça de colonizadores e colonizados. Afinal em vez do tradicional mote cristão de revelação/fé, surge o iluminismo e como alvo preferencial a idéia de razão/liberdade. Dois conceitos gêmeos que de certa forma justificariam os ideais universais da burguesia européia.
Para os iluministas a razão pressupunha a liberdade, pois o sujeito só poderia alcançar a verdade se tivesse plena liberdade para agir e pensar. Por outro lado a liberdade pressupunha a razão, pois ser livre é poder usar plenamente o conhecimento da verdade.Surge daí, razão e liberdade, a idéia universal de progresso e desenvolvimento que acionará as vanguardas européias. As mitologias, as religiões, a arte, a tradição, o direito, o Estado, a política e a economia, tudo será julgado à luz do ideal homogeneizador do progresso.
Marx, no século XIX, monstrou que, ao contrario do que achavam intelectuais e burguesia, o motor da expansão européia não estava na razão ou na liberdade, conceitos abstratos, mas sim na forma-mercadoria, nas condições matérias de existência, de suas potencialidades e contradições.
Marx demonstra que o desenvolvimento da forma-mercadoria sempre esteve presente na Historia das sociedades primitivas, mas de forma marginal e limitada. A moderna sociedade européia tratou de libertá-la de vez. Isso ocorreu a partir da inclusão, no circuito mercantil, de três elementos que sempre haviam ficado fora dele: a força de trabalho humana, a terra e os meios de produção.
Com a sociedade banalizando então em mercadorias os atributos fundamentais das pessoas (força de trabalho) e da natureza (meios de produção) Marx probabilizou o que viria a seguir. Os mais desavisados o chamariam de determinista, porem há uma relação de causalidade (causa e efeito) no que ele escreve sobre a sociedade organizada dessa forma, senão vejamos:
I) No limite, tudo seria transformado em mercadoria. Quer seja pelo aumento incessante da massa de mercadorias, quer pela capacidade de produzi-las. II) O espaço geográfico inserido nesse circuito teria que abranger o maximo possível de populações e riquezas para dela participarem, esse espaço seria todo o planeta. III) Novos bens e novas necessidades teriam que ser criadas incessantemente. Como as “necessidades do estomago” têm fim e são limitadas, esses novos bens e necessidades teriam que vir da fantasia e ilusão, que são ilimitadas.
Marx, antes de tudo um filosofo, promoveria com sua critica da economia política uma leitura inquietante que atualmente foulcotianos, pos-modernos, pos-estruturalistas não percebem (ou desconhecem) que é a falsa dicotomia entre o econômico e a cultura de modo geral,uma é reflexo e continuação da outra, própria da relação do homem com a natureza/sociedade em que vive. Não são as idéias que fazem a historia, mas indivíduos reais em condições reais. A ideologia finalmente faz com que as idéias (representações sobre o homem, a nação, o saber, o progresso, o poder) expliquem as relações sociais e políticas, tornando impossível perceber que as idéias só são explicáveis pela própria forma de sociedade e política.
Outro tiro certeiro de Marx: com o avanço cada fez mais freqüente do capital sobre os homens e a natureza haveria uma revolução técnica incessante para expandir o espaço e diminuir o tempo de acumulação, realizando assim uma profunda revolução cultural que faria surgir o homem apto as novas necessidades em expansão. Tudo isso foi confirmado vide globalização e o que temos a vista atualmente é a disparada da acumulação financeira global, ou seja, riqueza abstrata, apartada do trabalho e da natureza, N’O Capital ele nos escreve que ao repudiar as “coisas”, o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, a acumulação de capital não poderia mais ser o eixo em torno do qual a vida social se organiza. A forma-mercadoria teria então de ser superada ou, pelo menos, remetida novamente a um lugar secundário, sendo substituída por algum outro princípio de organização da vida social. “(fonte: César Benjamim, A opção brasileira)”.
Em tempos em que tudo vira mercadoria para se consumir cada vez mais e loucamente Produz-se por dinheiro, especula-se por dinheiro, mata-se por dinheiro, corrompe-se por dinheiro, organiza-se toda a vida social por dinheiro, só se pensa em dinheiro. Cultua-se o dinheiro, o verdadeiro deus da nossa época – um deus indiferente aos homens, inimigo da arte, da cultura, da solidariedade, da ética, da vida do espírito, do amor. Um deus que se tornou imensamente mediocrizante e destrutivo.Finalmente Marx anteviu que para perder o capitalismo deve vencer primeiro.Hegel dizia que um sistema antigo deva atingir sua forma mais plena ,para que outro novo possa vir. As crises no mundo contemporâneo mostram que a forma mercadoria e a acumulação de capital não podem ser mais o principio organizador da vida social. Sem duvidas um grande desafio para nosso século. Marx nunca esteve tão vivo.
A idéia de sistema-mundo como conhecemos hoje indelevelmente surge a mais ou menos 500 anos, quando as sociedades primitivas foram progressivamente unificadas em um novo sistema muito mais amplo e sob a influencia do antigo sistema europeu. Os agentes e promotores dessa expansão tinham motivos próprios para fazê-lo e buscavam um sentido no que faziam. Primeiro tinha-se na propagação do cristianismo a principal teoria do discurso expansionista, porem já se vivia um tempo histórico novo e logo outras idéias fariam a cabeça de colonizadores e colonizados. Afinal em vez do tradicional mote cristão de revelação/fé, surge o iluminismo e como alvo preferencial a idéia de razão/liberdade. Dois conceitos gêmeos que de certa forma justificariam os ideais universais da burguesia européia.
Para os iluministas a razão pressupunha a liberdade, pois o sujeito só poderia alcançar a verdade se tivesse plena liberdade para agir e pensar. Por outro lado a liberdade pressupunha a razão, pois ser livre é poder usar plenamente o conhecimento da verdade.Surge daí, razão e liberdade, a idéia universal de progresso e desenvolvimento que acionará as vanguardas européias. As mitologias, as religiões, a arte, a tradição, o direito, o Estado, a política e a economia, tudo será julgado à luz do ideal homogeneizador do progresso.
Marx, no século XIX, monstrou que, ao contrario do que achavam intelectuais e burguesia, o motor da expansão européia não estava na razão ou na liberdade, conceitos abstratos, mas sim na forma-mercadoria, nas condições matérias de existência, de suas potencialidades e contradições.
Marx demonstra que o desenvolvimento da forma-mercadoria sempre esteve presente na Historia das sociedades primitivas, mas de forma marginal e limitada. A moderna sociedade européia tratou de libertá-la de vez. Isso ocorreu a partir da inclusão, no circuito mercantil, de três elementos que sempre haviam ficado fora dele: a força de trabalho humana, a terra e os meios de produção.
Com a sociedade banalizando então em mercadorias os atributos fundamentais das pessoas (força de trabalho) e da natureza (meios de produção) Marx probabilizou o que viria a seguir. Os mais desavisados o chamariam de determinista, porem há uma relação de causalidade (causa e efeito) no que ele escreve sobre a sociedade organizada dessa forma, senão vejamos:
I) No limite, tudo seria transformado em mercadoria. Quer seja pelo aumento incessante da massa de mercadorias, quer pela capacidade de produzi-las. II) O espaço geográfico inserido nesse circuito teria que abranger o maximo possível de populações e riquezas para dela participarem, esse espaço seria todo o planeta. III) Novos bens e novas necessidades teriam que ser criadas incessantemente. Como as “necessidades do estomago” têm fim e são limitadas, esses novos bens e necessidades teriam que vir da fantasia e ilusão, que são ilimitadas.
Marx, antes de tudo um filosofo, promoveria com sua critica da economia política uma leitura inquietante que atualmente foulcotianos, pos-modernos, pos-estruturalistas não percebem (ou desconhecem) que é a falsa dicotomia entre o econômico e a cultura de modo geral,uma é reflexo e continuação da outra, própria da relação do homem com a natureza/sociedade em que vive. Não são as idéias que fazem a historia, mas indivíduos reais em condições reais. A ideologia finalmente faz com que as idéias (representações sobre o homem, a nação, o saber, o progresso, o poder) expliquem as relações sociais e políticas, tornando impossível perceber que as idéias só são explicáveis pela própria forma de sociedade e política.
Outro tiro certeiro de Marx: com o avanço cada fez mais freqüente do capital sobre os homens e a natureza haveria uma revolução técnica incessante para expandir o espaço e diminuir o tempo de acumulação, realizando assim uma profunda revolução cultural que faria surgir o homem apto as novas necessidades em expansão. Tudo isso foi confirmado vide globalização e o que temos a vista atualmente é a disparada da acumulação financeira global, ou seja, riqueza abstrata, apartada do trabalho e da natureza, N’O Capital ele nos escreve que ao repudiar as “coisas”, o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, a acumulação de capital não poderia mais ser o eixo em torno do qual a vida social se organiza. A forma-mercadoria teria então de ser superada ou, pelo menos, remetida novamente a um lugar secundário, sendo substituída por algum outro princípio de organização da vida social. “(fonte: César Benjamim, A opção brasileira)”.
Em tempos em que tudo vira mercadoria para se consumir cada vez mais e loucamente Produz-se por dinheiro, especula-se por dinheiro, mata-se por dinheiro, corrompe-se por dinheiro, organiza-se toda a vida social por dinheiro, só se pensa em dinheiro. Cultua-se o dinheiro, o verdadeiro deus da nossa época – um deus indiferente aos homens, inimigo da arte, da cultura, da solidariedade, da ética, da vida do espírito, do amor. Um deus que se tornou imensamente mediocrizante e destrutivo.Finalmente Marx anteviu que para perder o capitalismo deve vencer primeiro.Hegel dizia que um sistema antigo deva atingir sua forma mais plena ,para que outro novo possa vir. As crises no mundo contemporâneo mostram que a forma mercadoria e a acumulação de capital não podem ser mais o principio organizador da vida social. Sem duvidas um grande desafio para nosso século. Marx nunca esteve tão vivo.
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