15 de maio de 2008

Pós-Modernismo




Não teve jeito. De tanto colegas e amigos questionarem sobre que raio de monstro seria esse tal de pós-modernismo, resolvi-me atrever a elaborar o breve texto que agora se faz lido neste blog. Desde já aviso que minhas conclusões não pretendem ser definitivas, já que o tema parece estar se fazendo a todo instante, mutante, como a própria idéia de pós-modernismo parece ser. Peço também desculpas aos especialistas no assunto por qualquer esquecimento desde ou daquele aspecto, coisa inevitável, já que o espaço aqui é pequeno. Por hora, minhas analises partem mais da visão em Ciências Sociais.
Logo após os anos que se seguiram a Segunda Guerra, desenvolveu-se na cultura, nas ciências e no comportamento humano, no mundo ocidental capitalista, uma serie de mudanças e aspectos, que assim como a sociedade moderna (que aparece junto ao Iluminismo a partir da Renascença e desenvolve-se ate o século XX), esteve articulada a uma significativa transformação na tecnologia, em especial na informática, tomando corpo na arte Pop dos anos 60, para finalmente entrar na Filosofia durante os anos 70 como critica da cultura ocidental. A esse conjunto de mudanças alguns intelectuais convenientemente chamariam de pós-modernismo. Se na sociedade moderna temos como pressupostos a razão, a liberdade, deus, como formas de libertação do homem de um mundo perverso, violento, na dita pós-modernidade todos esses conceitos caem por terra e com eles todos os grande ideais. O pensador moderno enfim, valorizou a Arte, a Historia, a Consciência Social. Na dita pós-modernidade não há céu, nem sentido para Historia, o homem pós-moderno se entrega ao presente, ao prazer e ao consumo desenfreado e individualistico. Junto de tudo isso a “desconstrução” do discurso filosófico, desconstrução não somente no sentido de demolir, destruir, mas também no de perceber as entrelinhas, o não-dito dentro do discurso dos princípios como: Razão, Sujeito, Ordem, Estado, Sociedade etc.

Temas antes considerados menores na Filosofia passam a ser mais bem estudados como loucura, desejo, sexualidade, linguagem, cotidiano, poesia, sociedades primitivas - elementos que abrem novas perspectivas para a liberação individual e aceleram a decadência dos valores ocidentais. Temos uma valorização do lúdico, nos textos há excessos e finalmente o pensamento pós-moderno torna-se um Idealismo, pois não consegue ver nas questões praticas e históricas, sentido algum E como todo o velho Idealismo o "excesso pós-modernista" não vê a diferença e nem as interações recíprocas entre a "idéia" e a objetivação da mesma. Não vê as diferenças e as relações entre teoria e prática. No sentido comportamental temos como conseqüência um sujeito individualista e sem referencializaçao com a realidade, porra-louca como queiram chamar alguns, o sujeito pós-moderno tem a sua frente varias possibilidades de consumir e de se digitalizar num mundo totalmente digitalizado, sem que precise necessariamente sentir e representar o mundo onde vive, vivendo um certo conformismo social ao mesmo tempo em que vive em função de seus objetivos e pessimismos.

O termo pós-moderno é geralmente identificado a um conjunto de intelectuais (entre eles, filósofos e historiadores) que atacam o projeto emancipador proposto pelo racionalismo desde o século XVIII. Estes intelectuais desenvolvem críticas a razão, colocando-a no banco dos réus e a condenando como incapaz de promover a liberdade e o bem humano (FUKUYAMA, 1992: 350-351). Atribuindo-lhe assim, a responsabilidade por todos os desastres da humanidade: guerras; poluições; desigualdades políticas, econômicas e sociais; entre as desgraças de todos os tipos e formas. O foco pós-moderno é a análise de "psicologias" "culturas" "idéias" "pensamento" "religiões”. Mesmo quando há análise econômica por pós-modernos ela se faz no plano das abstrações ideais (com afirmações, por exemplo, que o baixo salário do professor é determinado de forma a diminuir o prestigio deste, afirmação que parece correta, mas que destaca da realidade a situação, sem explicar qual é o caminho histórico e a inserção econômica dos professores no mundo atual). Claro que aqui estou generalizando, mas quando vamos tratar de um movimento (pós-modernismo não é apenas um recorte cronológico, envolve uma série de idéias e preceitos), precisamos o tratar como um todo. A regra do pós-modernismo, ao menos no setor acadêmico, é colocar o valor do indivíduo a cima do indivíduo, é colocar o ultra relativismo. É colocar a idéia antes da matéria. Isso significa que todos os pós-modernos possuem todas essa característica? Não necessariamente. Mas se não possuir a maioria delas, então não é pós-modernista.

A base teórica em qual bebe os pós-modernos é a base idealista. Em história, por exemplo, é o momento que surgem as histórias das mentalidades, da cultura, dos conceitos. Nada contra abordar tais temas, mas dizer que a mentalidade não tem nada a ver com a vida material que rege a vida da pessoa pode trazer complicadores e certa aproximação com o neoliberalismo, pois este discurso tende a escamotear as contradições em que vivemos no sistema capitalista, que inclusive é o contexto em que surge a dita pós-modernidade. Desta forma percebe-se que alguns autores elevam o 'lúdico' ao posto de único critério orientador do agir e a máxima “comei e gozai, amanhã morreras” torna-se recorrente. No entanto ainda há autores que defendem a possibilidade de não haver uma pós-modernidade, autores como Habermas e Sérgio Paulo Rouanet (Razões do Iluminismo) defendem que tais críticas não significam uma ruptura com o projeto moderno, mas que é característica intrínseca da modernidade se criticar e se reformular. Habermas exemplifica com Hegel. Por isso toda critica da modernidade, elaborada desde os românticos, na verdade seria uma forma de AUTO-CRÍTICA, que revelaria, e ainda revela, todo o potencial emancipador da razão, que mostra-se capaz não apenas de julgar o mundo da experiência como também a si mesmas. Apenas o esgotamento desse potencial poderia justificar o uso do prefixo "pós" como índice de uma ruptura com a natureza da modernidade que é a crítica sem limites (Escola de Frankfurt). Quem assistiu a palestra do professor Assai (SEMANA H) pode perceber essa fator contraditório, Habermas inclusive achava a modernidade um projeto inacabado, Rouanet usa o termo “neo-moderno”.


O que há de mais tosco e inconseqüente no pensamento contemporâneo é essa intelectualidade academicista, que embalada por este ultra-relativismo chamado de pós-modernidade não possui sensibilidade aos potencias emancipadores da racionalidade (mil vezes reformulada). Enfim, quando não pudermos mais contar com a razão, com a nossa capacidade de comunicação, aí sim, estaremos em maus lençóis. O quadro é sinistro e por vezes esse horizonte parece próximo. Prefiro acreditar na objetividade, na utopia.

11 de maio de 2008

Ocuparte...enfim a democratização dos espaços.


Domingo, estou ansiosamente aguardado aqui no diretório, para logo mais ir ao prédio onde funcionava as antigas instalações da biblioteca municipal da cidade onde moro, Imperatriz. Lá, me reunirei com mais alguns colegas e companheiros que estão numa força conjunta, decorando o prédio, que ate a noite sexta feira, anteontem, estava abandonada, servindo de banheiro e de toda a sorte de imundícies praticadas pelos desfavorecidos desta sociedade em que vivemos.
Mas imundície maior é a que faz o poder publico, na pessoa de seus representantes com o patrimônio publico e histórico da cidade, um prédio desses, por exemplo, deveria estar em perfeitas condições de funcionamento, como espaço de interação sócio-cultural e educativa, e não como mero point de fumadores de ervas e xeiradores de cola, nada contra os fumadores, mas é das condições espaciais e degeneradoras que eu estou falando.
O espaço já tinha sido requisitado inúmeras vezes por várias entidades que vão desde o Centro de Cultura Negra “Negro Cosme” ate o sindicato dos moto-taxista. Todos os pedidos foram em vão e a prefeitura preferiu enrolar nas teias dos mecanismos burocráticos que controlam no município, a liberar o espaço para as entidades. De certa forma nossa ação esta corroborada e legitimada judicialmente pelo fato de não estarmos depredando o patrimônio, mas sim o conservando. E filosoficamente lembrei-me de Habermas, filosofo alemão, que tinha na sua teoria do agir comunicativo uma democratização verdadeira, através de uma “esfera publica cidadã”, onde os indivíduos são inseridos a participar de uma construção humanística da sociedade.
Convenientemente o movimento passou a chamar-se Ocuparte. Não sei quem de fato deu este nome, mas gostei por que me trazia a idéia de “ocupar com arte”, prestigiando a cultura local e seus fazedores. Sem duvida este dia é um inicio de uma nova jornada.

6 de maio de 2008

Milho transgênico: A quem interessa?


João Pedro Stedile *
Adital - Caros amigos, para evitar que minha incontrolável indignação interfira sobre a clareza dos fatos que vou narrar, por si só contundentes, vou alinhá-los em tópicos e da forma mais enxuta possível.
1. Em julho de 2002, o candidato Lula publicou seu programa de governo, assinado pelo coordenador de sua campanha, Antonio Palloci. No capítulo agricultura, item dos transgênicos, há um compromisso claro: que o governo Lula assumiria a responsabilidade pela precaução. Ou seja, não liberaria nenhuma semente transgênica sem absoluta segurança.
2. Durante o ano de 2007, a CTN-BIO, Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia, aprovou sem nenhum estudo científico de impactos na natureza e na saúde humana, como manda a lei, o uso comercial de duas variedades de milho transgênico: o milho MON 810, da empresa americana Monsanto, e o milho Liberty Link, da alemã Bayer.
3. Não tendo sido cumpridas as regras de segurança previstas na lei, o Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, recorreram ao conselho de ministros denunciando o perigo que isso significa para o meio ambiente e para a saúde da população.
4. No dia 12 de fevereiro, o conselho se reuniu. Sua coordenadora, a ministra Dilma Rousseff, advertiu que a liberação era uma questão de interesse do governo (ou de empresas transnacionais? ) e exigiu fidelidade dos ministros. Não conseguiu a de todos, mas mesmo assim as novas "variedades" de milho foram aprovadas por sete votos a favor e quatro contra.
5. Entre os que votaram a favor estão o Itamaraty e o Ministério da Justiça. Além dos que tradicionalmente se manifestam a favor das empresas transnacionais, como Agricultura, Desenvolvimento e Indústria, Defesa, e Ciência e Tecnologia.
6. O Itamaraty foi questionado: como explicar que em reuniões internacionais assina acordos pelo direito da precaução e em nível interno vota contra? Explicação: o subsecretário que foi à reunião e votou não obedeceu à linha do ministério!
7. O ministro Tarso Genro, também questionado, tirou o corpo fora, alegando que o chefe de gabinete também não espelhava sua opinião... Então, espelha a opinião de quem?
8. Terminada a reunião, o ministro Sérgio Rezende comemorou descaradamente, na imprensa, a vitória da Bayer e da Monsanto. E saber que o rapaz é filiado ao Partido Socialista. Deveria mudar para o partido Sou-da-lista. ..
9. Os movimentos sociais advertiram o governo. Dezenas de intelectuais, pastores, bispos, cientistas enviaram carta aberta aos ministros pedindo a manutenção da precaução, conforme recomendação do Ibama e Anvisa, os dois órgãos diretamente ligados ao assunto.
10. A ciência já comprovou: as sementes de milho transgênicas não convivem com as outras variedades. Elas afetam geneticamente todas as demais em imensas extensões de lavouras. Nos anos oitenta, os norte-americanos cobriram com adesivos a fuselagem de um avião que sobrevoou, a grande altitude, o Corn Belt (o Cinturão do Milho) do país. Colheram desse adesivo material genético de milhares de variedades do cereal. É a glória e maldição do milho: a polinização é aberta, promovida pelo próprio vento. Deve-se esclarecer, também, que a pesquisa genética com essas sementes não visa selecionar características que as tornem resistentes às pragas e doenças, mas sim aos herbicidas e venenos fabricados por seus próprios desenvolvedores. E, pior, não há estudo comprobatório de sua segurança. Nenhum.
11. O sistema de acompanhamento de contaminação de transgênicos do Greenpeace, uma das mais importantes organizações ambientalistas do mundo, já recolheu denúncias de "contaminação" genética por essas variedades de milho em dezesseis países.
12. Nos Estados Unidos, a variedade da Bayer está proibida, pois apresentou problemas na alimentação dos porcos. Em janeiro passado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que não é nenhum fanático-ambientalis ta, proibiu o cultivo comercial do milho da Monsanto. Talvez por isso as duas empresas transnacionais tenham aumentado a pressão pela aprovação do seu milho no Brasil.
13. Lembre-se ainda que a difusão dessas variedades de milho no México acabou com todas as variedades locais, crioulas, que eram controladas pelos camponeses e usadas no preparo da tortilla, o prato nacional do país, e levou à falência milhares de famílias de camponeses pobres.
13. As empresas alegam que vão diminuir a dosagem dos venenos. O mesmo diziam sobre a soja transgênica da Monsanto. No Rio Grande do Sul, depois de consolidado o uso da soja transgênica, a utilização de veneno subiu 7,5 quilos para cada quilo usado antes (750%). Por isso, o Brasil é hoje o maior consumidor de venenos agrícolas do mundo!
14. Os movimentos camponeses do Brasil não ficarão calados. Buscaremos todas as formas possíveis para defender nossas variedades e a saúde de nossos cultivos. Dos ministros defensores das transnacionais, só esperamos que tenham vergonha na cara. Porque a história de um povo é um pouquinho mais longa do que quatro anos de governo - e um dia o povo brasileiro vai cobrá-los.

* Economista, Membro do MST e da coordenação nacional da Via Campesina Brasil
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